29 de maio de 2007

A NOVA RELIGIÃO

Por el R.P. Christian Bouchacourt, Superior de Distrito de América do Sul - FSSPX
(Tradução do espanhol por Jorge Luis) (1)

Entre os costumes dos católicos franceses existe uma arraigada tradição, que consiste em tocar os sinos cada vez que há um batismo, a fim de exteriorizar a alegria da Igreja que acaba de receber um novo membro em seu seio. Sem embargo, em uma paróquia conhecida por mim, esta regra tinha uma exceção: quandos os pais esperavam mais de um mês para cumprir com o grave dever de batizar seu filho, o pároco se negava a cumprir com a tradição de tocar os sinos.

A que se deve esta aparente intransigência? O pároco queria manifestar desse modo aos pais a negligência em que haviam incorrido e puní-la. Com efeito, a Igreja ensina aos pais católicos que sobre eles pesa o dever grave de batizar seus filhos 'guara primum', ou seja, o mais rápido possível. Esperar mais de um mês por razões injustificadas é um pecado mortal. O pároco o recordava à sua maneira, e tinha razão!

Por que semelhante urgência? Corre algum perigo esta criança que todavia não tem o uso da razão? Temos que responder afirmativamente. Sabemos que todas as crianças nascem com o pecado original, mais além da santidade pessoal de seus pais. Este pecado, que se transmite a todos depois da queda de Adão e Eva, exceto a Santíssima Virgem Maria e Nosso Senhor Jesus Cristo, é um obstáculo para a visão beatífica. Até a morte de Cristo na cruz, nenhuma alma poderia entrar no Paraíso. Jesus Cristo instituiu o sacramento do Batismo para nos fazer nascer para a vida sobrenatural e nos permitir esperar o céu se formos fiéis a esta graça recebida.

Sabemos pelo nosso Catecismo que o Homem que morre com um pecado mortal em sua consciência, como já não tem esta vida de graça perde a vida sobrenatural e não poderá esperar entrar no paraíso prometido. Será punido com o fogo e o inferno como Cristo ensinou de muitas maneiras quase setenta vezes nos Evangelhos.

A criança que não tenha chegado ao uso da razão, se morre sem a graça do batismo, não será castigada já que não é responsável por seus atos, contudo, será privada da visão beatífica. Irá ao limbo, e gozará de uma felicidade natural, sem experimentar nenhuma tristeza por não haver entrado em um paraíso que desconhece.

Esta doutrina tem sido ensinada em toda a Igreja até o Concilio Vaticano II (1962-65). Podia encontrar-se explicada em todos os catecismos.

O cardeal Arinze, prefeito da Congregação para o Culto Divino, a recordara expressamente faz pouco tempo...

Acontece que a doutrina do pecado original e suas consequências quase não é ensinada em parte alguma. O próprio Papa Bento XVI passaria em silêncio sobre ela. E existe uma prova à mão, com é o caso do sermão improvisado que ele pronunciou justo antes de batizar a uma dezena de crianças em 8 de janeiro de 2006 (cf. Agência Zenit, edição de 10/01/06). O Santo Padre não fala uma só vez sobre o pecado original. Ensina que o batismo nos incorpora à família de Deus, e na dos Santos, que nos obriga a renunciar à cultura da morte que é a droga, a mentira, a injustiça, o desprezo pelo próximo. Mas nem uma só palavra sobre a gratuidade da graça sobrenatural e do obstáculo que existe para ela, o pecado original.

Acaso é preciso recordar que o homem não tem nenhum direito nem à vida sobrenatural nem ao paraíso? Deus os concede gratuitamente 'aos homens de boa vontade' e sob certas condições que só Ele decide. A graça e o céu são dados aos homens sem nenhum direito nem mérito de sua parte.

É necessário recordar também, como suele dizer-se, que só Deus faz a Verdade? "A verdade não evolui porque Deus não muda. A Igreja não faz mais que explicitar a verdade revelada. Ela não é proprietária da verdade, mas sua depositária. Não se pode renegar uma Tradição que ensina durante mais de mil anos e sobre a qual vários Concílios se pronunciaram."

Desde o último Concílio se busca adaptar a verdade ao espírito do mundo, quando é o mundo que deve adaptar-se à verdade. Querer unir e reconciliar a doutrina católica com o espírito do mundo é trabalhar para uma união 'adúltera'. O liberal quer isso e ali está seu erro fatal. Esse também é o drama da Igreja conciliar, que quer adaptar-se ao mundo. Para conseguí-lo, é preciso ensinar uma nova doutrina.

É impressionante reler o famoso discurso do Papa à Cúria Romana em 22/12/2005. Na segunda parte deste discurso, que trata do Concílio e sua 'hermenêutica', o Papa usa mais de 25 vezes a palavra 'novo' ou 'novidade'. Fala dos 'frutos novos do Concílio', das 'novas relações entre a Fé e o Estado', das 'novas relações entre a fé cristã e as religiões do mundo', etc...

Para adaptar-se ao mundo, a Igreja conciliar se apropriou da verdade, mudou a doutrina, se deificou! Fez uma 'nova religião'. Então condenará aos que não se acomodam a este estado de coisas e os perseguirá. Foi o que fez com Monsenhor Lefebvre e sua obra até hoje.

Por isso não podemos aceitar esta nova teoria sobre o limbo: está em contradição total com a Tradição católica. Inclusive o padre Royo Marin, grande teólogo espanhol falecido há pouco tempo, depois do Concílio mudou completamente seus escritos sobre o limbo, dizendo que era uma opinião ensinada ontem, a qual hoje não pode sustentar-se... quando o mesmo havia ensinado o contrário durante mais de 30 anos. Não podemos e não devemos seguir esta marcha errática que põe em perigo a fé e a salvação das almas.

Pais de família! Por amor de Deus, por amor de vossos filhos, batizem-nos o mais rápido possível! É um dever dos pais católicos. Deus lhes pedirá contas ao sair desta vida disto. Deus é Deus e nós teremos que dobrar-nos ante Ele, mas não manusear a verdade e mudá-la para justificar nossas negligências. Deus, e ninguém mais, nos julgará ao fim de nossos dias.

Bom e santo ano para todos! E que Deus Nosso Senhor os abençoe junto a vossas famílias.

Nota:
(1) Título original: 'La Nueva Religion', publicado no site da Radio Conviccion - Chile

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