Salve Maria!
Dentre os muitos movimentos surgidos na era pós-conciliar, um se destacou pelo seu caráter eminentemente sócio-político: a Teologia da Libertação. Nascida na década de 60 por parte de alguns pensadores cristãos, tanto católicos como protestantes, defende a idéia de um alavancamento da Igreja Católica dentro do cenário político, apoiando para tanta as ideologias marxistas. Chama-se "libertação", segundo o contexto do movimento, pois preconiza a libertação do ser humano de toda e qualquer desigualdade social, hierárquica e até mesmo moral. Teve em Genésio (ex-frei Leonardo) Boff um de seus maiores articuladores, ele mesmo se definindo como o criador do nome desta corrente teológica(?).
Para muitos, e até para mim, imaginava-se que a TL, em virtude do silenciamento de seu principal condutor ideológico, havia perdido forças, resistindo em pontos muito isolados, já que a maioria dos clérigos que receberam a "novidade" hoje estão com idade avançada, e apesar de alguns bispos mais novos aderirem à TL, são poucos, restritos a suas dioceses, e a tendência é que se reduzam mais, em virtude do movimento ser contrário ao sacerdócio ordenado.
Pois bem, na verdade a TL perdeu forças, mas ainda está longe de ser banida do seio da Igreja. Assim diz Frei Clodovis Boff, "teólogo" católico e um dos principais teóricos da Teologia da Libertação na América Latina, no seu artigo "A Teologia da Libertação e a crise da nossa época", postado no site PASTORALIS (http://www.pastoralis.com.br).
Segundo Frei Clodovis, "a partir de suas bases, a TdL está se reformulando, ampliando dialeticamente suas grandes intuições, especialmente a dupla referência aos pobres e ao evangelho, e incorporando novas questões. Eis algumas tarefas que está levando em frente:
- No nível metodológico , vai assumindo uma Mediação Sócio-Analítica mais plural, mesmo se o marxismo permanece como referência importante.
- No nível eclesiológico, trabalha, em articulação com a problemática das Comunidades Eclesiais de Base e o "novo modo de ser igreja", questões como: religião popular, papel social e religioso das massas, realidade urbana, inculturação da fé, importância da mídia, lugar das novas classes médias, discernimento dos novos movimentos religiosos.
- No nível político, revaloriza em novos termos a relação direta e imediata com os "excluídos" (caridade, assitência); dá lugar às alianças estratégicas com esquerdas e aos acordos táticos com direitas.
- No nível da espiritualidade , passa a redescobrir a gratuidade da contemplação, pondo decididamente a "mística de Deus", como ponto de partida, polo dialético e centro para a "mística da luta".
Aqui vemos uma novidade dentro do contexto do movimento: a espiritualidade ganha uma certa atenção dos teólogos, pois como diz o mesmo Frei: "Frente ao mudado cenário tanto da fé quanto da política, é dever da TdL repor a relação fé-política em novos termos. Tudo indica que a fé, como sempre política, tenderá a sê-lo em menor medida, por entender enfatizar com maior vigor sua autonomia específica. Quanto à política, tenderá a ser mais vulnerável à penetração da religião, com o perigo de sua "colonização" sob a forma da integralismo político. Na verdade, hoje o indicador "política" baixa, enquanto que o da "fé" sobe."
Do mesmo modo, o autor afirma que o movimento "evoluiu": "Efetivamente, a crise atual trouxe para a TdL a necessária relativização de muitos pontos de vista. Ela purificou-a de alguns equívocos. Constitui, assim, para ela um exercício de despojamento.
Ao nível de suas mediações, muitas certezas falsas foram para o chão. Essas certezas se situavam a um tríplice nível: (1) certezas de análise sobre o que era o sistema social (capitalista); (2) certezas sobre o projeto histórico de sociedade, de como devia ser o sistema (socialista) alternativo; (3) certezas sobre as estratégias corretas (de classe e revolucionárias) para se chegar a encarnar a utopia.
A TdL tornou-se mais humildade e transigente. Passa a perceber a realidade de modo mais vário e complexo. Faz-se sensível à parte de verdade que está nas outras propostas, tidas outrora com pouco sem-cerimônia como "alienadas" ou coisa "fora da linha certa".
Complementando, ele afirma que "a TdL hoje adota um "perfil baixo", identificando para basear sua assertiva "três circunstâncias responsáveis, de peso e de valor desiguais: (1) a incorporação da temática da TdL pela Igreja Institucional em seu discurso oficial, (2) a dominância da ideologia neoliberal no atual debate social; (3) o deslocamento da relevância social para a questão do "sagrado"."
Sobre as consideradas três circunstâncias responsáveis, sabemos que a temática da Teologia da Libertação é equivocada no que diz respeito às noções de "Reino", "Pecado", "Teologia" e "Evangelização", e até mesmo no uso da palavra "Libertação", pois reduz tais termos a definições sociológicas, direcionadas ao Homem visto num contexto sociológico e antropológico, esquencendo-se (até agora) do caráter místico e escatológico que as palavras citadas anteriormente alcançam.
Sabemos também que a Igreja possui sua Doutrina Social, onde ela defende a propriedade privada, o direito a condições dignas de trabalho, a renumeração justa. Ela reconhece a dignidade do Homem enquanto ser produtivo e ensina que o trabalho foi feito para o Homem, e não o contrário. O trabalho é condição para o desenvolvimento de nossa personalidade, porque mediante o trabalho o homem estabelece relações com: 1) Deus; 2) seu próximo, e 3) a natureza. O trabalho é um meio para a salvação de nossas almas, o melhoramento da sociedade e o progresso da civilização.
Poderia aqui desenvolver mais sobre tal assunto, mas acredito que seria repetitivo demais diante da gama de documentos da Igreja sobre o movimento e sobre sua Doutrina Social. A intenção real deste pequeno artigo é alertar aos católicos que o "urso apenas hiberna dentro de sua caverna", e como a lagarta, depois de deixar o casulo, poderá surgir uma bela borboleta, mas ainda com o espírito da mesma lagarta.
Fontes de consulta:
www.veritatis.com.br
www.pastoralis.com.br
31 de julho de 2006
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