18 de abril de 2007

A MISSA É NOSSA BANDEIRA

Por R.P Christian Bouchacort, Superior do Distrio da América do Sul
(Tradução do espanhol por Jorge Luis) (1)

Algumas semanas depois de sua eleição em 1978, o Papa João Paulo II recebeu Monsenhor Lefebvre pela primeira vez. Em uma cortês entrevista, o fundador da FSSPX evocou o problema da Nova Missa imposta tiranicamente desde o primeiro domingo do Advento de 1969. O Papa escutou-o atentamente e propôs a Monsenhor Lefebvre continuar a conversa na presença do então Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Seper. Este se inquietou pela compreensão do Papa e exclamou em tom de censura: “Mas Santo Padre... a Missa tradicional é a bandeira deles!” Monsenhor Lefebvre comentará mais tarde que “de alí em diante caiu sobre nós o manto do silêncio”.

A reflexão do Cardeal Seper, sob efeitos de ira, reflete a mais pura verdade: a Missa tradicional é nossa bandeira. Monsenhor Lefebvre sacrificou tudo para defender-la, salvar-la e transmitir-nos como herança em momentos que a reforma do novo rito a colocaria em perigo.

Este combate (porque se trata de um combate) pela Missa tradicional não é algo sentimental nem mera nostalgia. É um combate da fé. Era preciso que mudassem a doutrina para poder destruir a Missa católica canonizada pelo Papa São Pio V na bula 'Quo Primum Tempore'. Durante o Concílio Vaticano II (1962-1965) o ecumenismo, a liberdade religiosa e a colegialidade, noções totalmente novas, estranhas à doutrina católica e condenadas no passado, se levantaram como estandartes de uma nova religião que transformaria completamente o dogma. Realizada a revolução doutrinal, não restava mais que destruir o tesouro que a expressava: a Missa. Assim apareceu o novo rito, que se impôs quatro anos depois do encerramento do Concílio.

A Missa é o centro da teologia católica; é a chave da abóbada e sua pedra angular. Uma vez que se mudou a teologia, não pôde suportar-se a Missa de São Pio V porque não se adaptava aos designios dos inovadores. Havia que reformá-la e o encargo se cumpriu com a intervenção de observadores protestantes, que não permaneceram passivos durante o processo de elaboração dos novos textos litúrgicos

O drama do modernista é querer dissociar a liturgia e a pastoral do dogma. Mas ambas as coisas são consequência do dogma. Esta realidade vem expressa no adágio popular que diz: 'lex orandi, lex credendi', ou seja, se reza tal como se crê. A revolução litúrgica somente pôde pôs-se em marcha uma vez que se conquistou o objetivo de mudar a doutrina.

Os protestantes não puderam menos que alegrar-se pela reforma litúrgica. Durante uma reunião do Consistório de Augsburgo de Alscácia e Lorena, celebrada em Estrasburgo em 8 de dezembro de 1973, as autoridades protestantes da França puderam declarar: “Saudamos o uso das novas orações eucarísticas, nas quais nos reconhecemos, que têm a vantamgem de matizar a teologia do sacrifício que tínhamos por costume atribuir ao Catolicismo”.

Todo o combate de Monsenhor Lefebvre e da FSSPX, por ele fundada, não é senão um combate doutrinal. Ele quis (e nós também queremos), não só que a Missa de São Pio V recupere o lugar que lhe corresponde na Igreja, mas também que uma comissão doutrinal examine as declarações e decretos do último Concílio, a fim de remediar o caos instalado na Igreja Católica há mais de 40 anos.

Atrás de várias décadas, as mudanças na liturgia da missa tiveram influência gravemente sobre a fé dos sacerdotes e fiéis. Recordemos aquelas palavras de Monsenhor Lefebvre: “Para um católico é psicológica, pastoral e teologicamente impossível abandonar uma liturgia que é expressão e apoio de sua fé para adotar novos ritos fabricados por hereges sem pôr em perigo sua fé. Não se pode imitar permanentemente os protestantes sem converter-se em um deles... Todas as mudanças no novo rito são realmente perigosas, sobretudo para os sacerdotes jovens, que já não têm a idéia do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação; para eles isto não significa nada; carecem da intenção de fazer o que faz a Igreja e não dizem missas válidas”. O perigo, portanto, é bem real.

A Missa Tradicional levantou a Cristandade e sua (quase) desaparição é o que provoca sua ruínia. O que está em jogo, que é sua restauração, é de vital importância. Sem ela não teremos os santos que precisa a Igreja. Sem ela toda restauração política ou social será um fracasso. Sem ela a Igreja não recuperará sua irradiação e a crise que sofre correrá risco de prolongar-se ainda por muito tempo.

Sem um retorno à Missa tradicional a santidade se extinguirá porque é uma escola de adoração e sacrifício. Torana a colocar o homem em seu lugar de criatura. Na Missa nova é Deus qeum se dá ao homem (“Bendito sejas, Senhor Deus do universo...”), enquanto que no rito de São Pio V é o homem quem se oferece a Deus por meio do sacerdote. Depois desta oblação e só depois Deus se entregará às almas. A supressão das genuflexões e da posição de joelhos, como queriam Lutero e seus discípulos, deificou o homem.

Há que se ver as estatísticas oficiais para mensurar as catastróficas consequências que a nova missa trouxe para a vida da Igreja. A partir de 1970, tão somente um ano da instauração da nova missa, começa a declinar o número de vocações em toda a Europa, ao tempo que a quantidade de sacerdotes que abandonam o sacerdócio não cessou de aumentar. A prática religiosa tem-se reduzido notoriamente desde esta mesma época.

Em troca (fenômeno significativo), as seitas não deixaram de ter crescentes êxitos... Estes resultados tem que levar as autoridades da Igreja Católica a uma reflexão.

As almas do purgatório, que esperam os sufrágios da Igreja militante para serem aliviadas e liberadas, também sofrem por estas reformas. A afirmação do dogma do Purgatório se encontra gravemente diminuída no Novus Ordo Missae. O memento dos defuntos foi suprimido em 3 das 4 orações eucarísticas, enquanto que a sequência de 'Dies Iras', que recordava a necessidade de rogar pelas almas da Igreja padecente, desapareceu da liturgia dos defuntos.

A sociedade mesma sofre igualmente as consequências das mudanças litúrgicas. A missa tradicional recorda a importância da cruz, a aceitação das provas e a resignação ante elas, de sorte me merecer a vida eterna. Todas essas orações do novo rito omitem estas verdades. A conformidade frente ao sofrimento para expiação de nossos pecados e para obter graças de Deus tem a virtude de apartar da alma o desejo imoderado de riquezas. Ademais, impede a inveja, fonte de revoltas, destruidora do tecido social e ruína das relações sociais.

A Igreja não recebeu a missão de acabar com a miséria mas a de aliviar-la na medida do possível e, sobretudo, aportar a graça para suportar esta prova. Deste modo se entende que o novo rito fosse uma via ideal para a expansão da Teologia da Libertação na América Latina.

Os grandes governantes católicos encontraram na assistência à missa tradicional a prudência para governar, a sabedoria para legislar e a força para defender a verdade e cobater o erro. Isabel a Católica concebeu o desejo de levar o Evangelho a terras longínquas. Nessa perspectiva enviou Cristóvão Colombo a descobrir o novo mundo. Garcia Moreno, presidente do Equador, que assistia a Missa sempre que suas ocupações lho permitiam, se nutria do necessário vigor para reformar o país, empresa que não lhe perdoou a Maçonaria, em cujas mãos caiu assassinado. O Imperador Carlos da Áustria, a quem a Maçonaria tirou do trono após terminada a Primeira Guerra Mundial, se fortalecia na Missa diária para exercer com prudência o poder sobre seus povos. Só hoje se reconhece isso, já que foi beatificado ano passado.

Monsenhor Lefebvre, ele mesmo foi missionário, referiu-se muitas vezes com emoção as graças e transformações que a Missa traz à sociedade: “Aqui está o que pode fazer a graça da Santa Missa. Aqui está nestas almas santas de quem foram nossos catequizandos. Essas almas pagãs, transformadas pela graça do batismo, transformadas pela assistência à missa e pela Eucaristia. Compreendiam o mistério do Sacrificio da Cruz e se uniam a Nosso Senhor Jesus Cristo nos sofrimentos de sua Cruz, ofereciam seus sacrifícios e seus sofrimentos junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo como bons cristãos (...) Aqui estão aldeias que se transformavam, diria não só espiritual e sobrenaturalmente, mas também física, social, economica e politicamente. Transformaram-se porque estas pessoas, pagãos como eram, se haviam feito conscientes da necessidade de cumprir com seu dever, apesar das provas, apesar dos sacrifícios, aprendendo a honrar seus compromissos, especialemente no Matrimônio. Então o povo se transformava pouco a pouco sob a influência (...) da graça do Santo Sacrifício da Missa e todos os povoados queriam ter sua capela (...) e contar com a visita de um sacerdote”.

A crise pela qual atravessa a Igreja depois de tantos anos não chegará a seu fim senão quando a Missa tradicional recuperar seu lugar de honra. Esta Missa reflete uma doutrina que também será necessário recuperar. Um dia a Igreja deverá fazer um exame de consciência sobre os anos passados, em que sua hierarquia dilapidou sua herança por comprazer-se ao mundo e aos protestantes.

A Missa de São Pio V é hierárquica e recorda a magnifica ordem que Cristo dispôs em sua Igreja. Ensina que o sacerdote não é um simples presidente da Assembléia mas o ministro de Jesus Cristo, que atua 'in Persona Christi', com a missão de perpetuar o sacrifício da Cruz sobre a face da Terra até o fim dos tempos e aplicar os méritos da Paixão às almas para entregá-las a Deus.

“Creio que quando se destrói a Missa, teremos destruído o Papado, já que sobre a Missa, como sobre uma rocha, se apóia o papado todo inteiro, com seus monastérios, bispos, colegiados, altares, ministros e doutrinas, ou seja, com todo o seu ventre. Tudo isso será esmagado quando se esmagar a sacrílega e abominável Missa”
(Martinho Lutero)

Tanto a Igreja como o sacerdócio extraem da Missa seu impulso missionário. Monsenhor Lefebvre escreveu nos estatutos da FSSPX que 'a Missa é apostólica'. A experiência tem demonstrado e demonstra nas missões donde existem comunidades tradicionais que esta missa se impõe por si mesma, sem necessidade de recorrer à inculturação.

Qual é o motivo de nosso profundo apego à esta missa de São Pio V? É que ela é realmente um sacrifício, enquanto que o novo rito é uma comida, conforme o artigo 72 da Instrução Geral à nova missa, uma comemoração. A noção de sacrifício é essencialmente católica e totalmente estranha aos protestantes. Um cristão não pode esperar salvar sua alma sem corresponder a estas palavras de Nosso Senhor: “Quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz e segue-me”.

A Missa de São Pio V é uma escola de sacrifício. Nos faz compreender o que são as provas da vida e confere sentido aos sofrimentos que nos unem a Cristo sofredor na Cruz. É o 'mistério da civlização cristã, a raiz da civilização católica'.

Eis aqui por que nos apegamos a esta missa. Eis aqui por que ela é, em efeito, nossa bandeira. Levamos adiante este combete em honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, em honra da Igreja, do Papa, dos Bispos, por amor de nossa pátria e por caridade com nossas almas.

Gostaria de concluir com umas palavras de Monsenhor Lefebvre:

“Devemos estar apegados ao sacrifício da Missa como a menina dos olhos, como o que temos de mais preciosos, mais respeitável, mais sagrado, mais divino”.

Ânimo, então!!!

Nota:
(1) Título original: 'La Misa es Nuestra Bandera', publicado no site da Radio Conviccion - Chile (http://www.conviccionradio.cl/noticias/05-04-07/05-04-07_1.htm)

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