17 de julho de 2007

MAIS ALGUMAS REPERCUSSÕES SOBRE O MOTU PRÓPRIO...

Salve Maria!

Já começamos a perceber as reações dos bispos brasileiros à liberalização do Missal de São Pio V, pelo Papa Bento XVI (artigos extraídos do site da CNBB):



1º Artigo: Entre Trento e o Vaticano II – D. Sinésio Bohn

Entre exultações de tradicionalistas e preocupações dos defensores do Concílio Vaticano II, o papa Bento XVI liberou os católicos da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, promulgada pelo papa Paulo VI. As disposições pontifícias estão contidas em dois documentos: uma carta apostólica de iniciativa pessoal do papa sob o título “Summorum Apostolorum” (Os Sumos Pontífices) e uma carta pessoal aos bispos, explicando as medidas adotadas. Aqui vai uma rápida síntese dos documentos:

Há dois modos de celebrar a Missa e os Sacramentos da Igreja: Um ordinário e outro extraordinário. O ordinário, que segue a liturgia reformada pelo Concílio Vaticano II e promulgada pelo papa Paulo VI. O extraordinário, que segue a liturgia inspirada pelo Concílio de Trento e promulgada pelo papa Pio V.

Nas Missas sem povo os sacerdotes católicos de rito latino podem seguir livremente o Missal de Pio V ou de Paulo VI.

As comunidades de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica também podem livremente celebrar segundo um ou outro Missal Romano.

Nas paróquias onde há um grupo estável de fiéis com saudades do modo pré-Vaticano II, o pároco deve atendê-los. Em dias de semana, sempre; aos domingos e em festividades pode haver uma celebração assim.

Em circunstâncias particulares, os fiéis podem solicitar a celebração extraordinária também dos demais Sacramentos. Os bispos podem administrar o Sacramento da Confirmação segundo o modo antigo. E os clérigos celebrar a Liturgia das Horas segundo o Breviário antigo.

Os bispos, para favorecer a liberdade das pessoas e dos grupos desejosos do modo antigo, podem criar uma paróquia pessoal ou nomear um capelão para tais grupos.

Na carta pessoal o Papa procura desfazer dúvidas e objeções às novas regras. Estas entrarão em vigor dia 14 de setembro de 2007, festa da Exaltação da Santa Cruz.
O objetivo do Papa é a unidade da Igreja e a liberdade dos católicos.

No Brasil temos uma Diocese pessoal para os grupos desejosos do modo antigo: A Administração apostólica Pessoal São João Maria Vianey, cujo bispo é Dom Fernando Areas Rifon, em comunhão com o Papa e com o episcopado brasileiro.

Em Santa Cruz do Sul já nomeei um capelão para os grupos desta sensibilidade e estamos em plena comunhão.

Diamantino (Mato Grosso), 12/07/2007.

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul


2º Artigo: De novo a missa em latim? – D. Redovino Rizzardo

No dia 7 de julho, o Vaticano publicou uma Carta Apostólica de Bento XVI, destinada a facilitar a celebração eucarística segundo o antigo Missal Romano, em vigor até a reforma introduzida por Paulo VI, em 1970. No documento, o Papa também lembra que a Missa em latim nunca foi abolida; ela continua sendo rezada em diversas circunstâncias, por inúmeras pessoas e comunidades –, como qualquer outra língua.

Como se lembra, durante o Concílio Vaticano II (1962/1965), a Igreja sentiu necessidade de rever algumas de suas posições em relação ao mundo e à sociedade. Nesse esforço de “aggiornamento” – como então se falava –, começou-se pela liturgia, na convicção de que a renovação parte da oração. Foi assim que, em 1962, João XXIII fez uma primeira revisão do Missal Romano, deixando o latim como língua litúrgica. Em 1970, seu sucessor, Paulo VI, avançou bem mais, e a nova reforma – em vigor até os nossos dias –, entre outras novidades, autorizou o uso do vernáculo na celebração dos sacramentos, sem, contudo, proibir o latim.

Por que Bento XVI emanou um decreto que, à primeira vista, apresenta todos os sinais de uma volta ao passado? Prevendo as críticas e o desgaste que a medida suscitaria em muitos ambientes, ele mesmo dá a resposta: «Trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja. Olhando para o passado, para as divisões que no decurso dos séculos dilaceraram o Corpo de Cristo, tem-se continuamente a impressão de que, em momentos críticos, quando a divisão estava para nascer, não foi feito o suficiente por parte dos responsáveis da Igreja para manter ou reconquistar a reconciliação e a unidade; fica-se com a impressão de que as omissões na Igreja tenham a sua parte de culpa no fato de tais divisões se terem consolidado. Esta sensação do passado impõe-nos hoje uma obrigação: fazer todos os esforços para que todos aqueles que nutrem o desejo sincero da unidade, tenham possibilidades de permanecer nesta unidade ou de encontrá-la novamente».

Com essas palavras, Bento XVI, como teólogo e profundo conhecedor da história, nos lembra que teria sido suficiente um pouco mais de tolerância e de respeito mútuo para se evitar as grandes rupturas que abalaram e continuam dividindo a Igreja ainda hoje. É preferível o menos perfeito em unidade do que viver se digladiando em busca do que se julga o mais perfeito – se é que existe perfeição fora da comunhão!

O Papa esclarece que o documento é fruto de «longas reflexões, múltiplas consultas e oração», e não pode ser visto como «menosprezo ou dúvidas contra a autoridade do Concílio Vaticano II»: «A este respeito, é preciso antes de tudo afirmar que o Missal publicado por Paulo VI e reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo II, obviamente é e permanece a forma normal – a forma ordinária – da Liturgia Eucarística. A última versão do Missal Romano anterior ao Concílio, que foi publicada sob a autoridade do Papa João XXIII, em 1962, e utilizada durante o Concílio, poderá, por sua vez, ser usada como forma extraordinária da Celebração Litúrgica».

Como comportar-se na prática do dia-a-dia, em nossas comunidades? Eis a diretriz oferecida pelo próprio Papa: «Nas paróquias onde haja um grupo estável de fiéis aderentes à precedente tradição litúrgica, o pároco acolherá de bom grado seu pedido de celebrar a Santa Missa segundo o rito do Missal Romano editado em 1962. Deve procurar que o bem destes fiéis se harmonize com a atenção pastoral ordinária da paróquia, sob a direção do bispo, evitando a discórdia e favorecendo a unidade de toda a Igreja».

Se alguém me perguntasse como vejo o novo documento papal, responderia que se trata de mais uma concessão de Bento XVI aos fiéis – normalmente ligados a movimentos “tradicionalistas” – que têm problemas de consciência em participar de celebrações eucarísticas mais vivas e espontâneas, como se começou a fazer a partir do Concílio Vaticano II. Em outras palavras, um novo ato de compreensão e de amor para evitar que, por motivos litúrgicos, se perca o que é mais importante: a unidade da Igreja.

Costuma-se dizer que os extremos se tocam. Assim, como reação aos “modernistas”, que se sentem donos da celebração e acima de quaisquer normas litúrgicas, fortificam-se os “conservadores” na defesa de um ritualismo vazio e estereotipado. Não foi por nada que os antigos latinos cunharam o provérbio: “Virtus in medio: a virtude está no meio”, ou seja, no equilíbrio.

De minha parte, não vejo motivo algum para se retomar, na Igreja que presido, um rito que já teve a sua época áurea. Há assuntos bem mais urgentes com que se preocupar! E não é que estou contra o latim: o pouco de português que aprendi, veio precisamente do latim!

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)


Vemos, nestes dois artigos, posições opostas ao que pede o Santo Padre. Enquanto no primeiro artigo vemos uma pequena explicação sobre o Motu Próprio, bem como a disposição em atender aos fiéis ligados ao Rito Tridentino, o segundo artigo reflete a opinião pessoal de um bispo em detrimento ao pedido do Santo Padre. Como afirma Dom Redovino, "De minha parte, não vejo motivo algum para se retomar, na Igreja que presido, um rito que já teve a sua época áurea." Talvez seja isso que esteja acontecendo com a Igreja. Ela já teve a sua 'época áurea', assim como Jesus Cristo...

Que motivo maior teria Dom Redovino em obedecer ao Santo Padre? Este bispo demonstra que não tem caridade por seus fiéis e se revela mais um 'lobo' que uiva contra o Sucessor de Pedro. Este bispo mostra sem pudor algum aquilo que já sabíamos: muitos bispos só lêem o que lhes convém, e se possível ignoram o que o Papa diz. Onde está, perguntaria eu a Dom Redovino, os confessionários, o decoro na liturgia? O que ele entende por liturgia viva e espontânea? Seriam por acaso as 'missas-show' carismáticas ou então as 'missas-comício' das famigeradas CEBs 'libertárias'?

Até quando teremos bispos que colocam suas opiniões bem acima do Papa e da Igreja???

Tem razão o bispo: a questão é bem maior do que o latim...

Pax Christi!!!

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