Salve Maria!
Publico aqui mais um texto sobre o movimento conhecido como 'Renovação Carismática Católica', desta vez de autoria de Dom Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX).
Deus os abençoe!!!
Pax Christi!!!
Publico aqui mais um texto sobre o movimento conhecido como 'Renovação Carismática Católica', desta vez de autoria de Dom Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX).
Deus os abençoe!!!
Pax Christi!!!
A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
(negação dos Sacramentos e caricatura dos Dons do Espírito Santo)
(negação dos Sacramentos e caricatura dos Dons do Espírito Santo)
Tradução do espanhol por Jorge Luis
Atualmente se fala com freqüência na Igreja do Movimento Pentecostal e da Renovação Carismática. Efetivamente há muitos católicos hoje em dia que buscam receber a graça do Espírito Santo por um caminho diferente que em definitivo nos chega através do Protestantismo. O Movimento Pentecostal é de origem protestante (1) e entrou na Igreja (2) transformando-se no Movimento da Renovação Carismática. Temos que dizer com clareza que estas manifestações são cada vez mais freqüentes na Igreja e sempre com a autorização das autoridades eclesiásticas (3).
No mês de Novembro de 1984, durante a reunião que teve lugar em Munique conhecida como Katholikentag, todos os Cardeais e Bispos alemães se congregaram junto a mais de oitenta mil fieis. Todo o mundo foi testemunha destas estranhas manifestações que tiveram lugar geralmente antes de se administrar o Sacramento da Eucaristia. E não cabe dúvida que diante de tais manifestações alguém se perguntasse se estavam inspirados pelo verdadeiro Espírito de Deus ou se tratava de outro espírito.
Mais ou menos e também por este modo, em Graz (Áustria), tiveram lugar uma serie de manifestações carismáticas diante do bispo deste lugar, no qual afirmou que adiante seriam aceitas na Igreja Católica como um meio para atrair aos jovens cuja prática religiosa era cada vez menor. Talvez, seguiu dizendo, seja um meio para que renasça a vida cristã entre a juventude.
Ao mesmo tempo, em Paray-le-Monial, se celebram freqüentemente reuniões deste tipo, adornadas com certos elementos tradicionais.
Concretamente aqui, em Paray-le-Monial, há jovens que passam a noite em adoração diante do Santíssimo Sacramento, rezando o Rosário e dando testemunho de um autêntico espírito de oração. No entanto há um aspecto curioso e estranho nele em que se mesclam elementos da Tradição e essas manifestações raras e nada habituais na Igreja.
Que podemos pensar de tudo isto? Devemos crer que é um novo caminho aberto por ocasião do Concilio Vaticano II, e incluído alguns anos antes, para receber o Espírito Santo?
"O Movimento Pentecostal é de origem protestante e tem entrado na Igreja transformando-se no Movimento da Renovação Carismática"
Tudo parece indicar que estas novas manifestações não estão de acordo com a Tradição da Igreja. De onde procede o Espírito Santo? Quem nos dá o Espírito Santo? Quem é o Espírito Santo?
DE ONDE PROCEDE O ESPÍRITO SANTO?
O Espírito Santo é Deus. Spiritus est Deus, diz São João. “Deus é Espírito”. E Deus quer que rezemos e lhe adoremos em espírito e verdade. Assim pois mais que manifestações sensíveis, externas, se trata de uma atitude espiritual que deve mostrar nosso verdadeiro vínculo com o Espírito Santo. No Evangelho Nosso Senhor Jesus Cristo anuncia aos Apóstolos que receberão o Espírito Santo, que Ele lhes enviará o Espírito Santo. O Espírito Santo, Espírito de verdade, de caridade, que glorificará a Nosso Senhor porque tomará dEle e lho dará a conhecer. Mittam eum ad vos. “Eu lhos enviarei”. Este Espírito procede de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Pai. O dizemos no Credo: Credo in Spiritum Sanctum, qui ex Patre Filioque procedit. “Que procede do Pai e do Filho”. Esta é a Fe católica: cremos que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho e que Nosso Senhor Jesus Cristo veio precisamente à Terra para comunicar-nos seu Espírito, para infundir-nos sua vida espiritual, sua vida divina.
OS SACRAMENTOS
Como se da a recepção do Espírito Santo? Que meios usa Nosso Senhor? Se vale destas manifestações (4) que vemos na Renovação Carismática e nos Pentecostais? Em absoluto. É por meio dos Sacramentos, instituídos por Ele, que nos comunica seu Espírito.
Devemos insistir de forma especial nesta verdade da Tradição: Nosso Senhor nos comunica seu Espírito pelo Batismo. Ele disse a Nicodemos na entrevista noturna que manteve com ele. “Aquele que no renasce da água e do Espírito Santo não entrará no Reino dos Céus”. Devemos renascer da água e do Espírito Santo. Ademais Nosso Senhor comunicou também desta forma seu Espírito aos Apóstolos. Primeiramente receberam o batismo de João e depois em Pentecostes receberam o Batismo do Espírito. E logo depois de terem recebido o Espírito Santo, que fizeram?
"Creio que deveríamos meditar com mais atenção a grande realidade de nosso Batismo. É uma total transformação a que se opera em nossas almas com a recepção deste sacramento."
Eis o que fizeram os Apóstolos: foram batizar; comunicaram o Espírito Santo a todos que tiveram Fé, a todos que creram em Nosso Senhor Jesus Cristo.
É assim como a Igreja, sob a influência e o ditame de Nosso Senhor Jesus Cristo, comunica o Espírito Santo às almas através do Batismo. Todos nós recebemos o Espírito Santo no dia de nosso Batismo. Creio que deveríamos meditar com mais atenção a grande realidade de nosso Batismo. É uma total transformação a que se opera em nossas almas com a recepção deste sacramento.
Os outros Sacramentos vêm a completar esta efusão do Espírito Santo recebido no dia de nosso Batismo.
O Sacramento da Confirmação nos comunica também todos os dons do Espírito Santo com grande profusão, já que temos necessidade deles para alimentar e fortalecer nossa vida espiritual, nossa vida cristã.
E isso não é tudo. Com efeito, Nosso Senhor Jesus Cristo quis que dois Sacramentos em particular nos comunicasse seu Espírito de forma freqüente, com o fim de manter em nós a efusão de seu Espírito. São os Sacramentos da Penitencia e da Sagrada Eucaristia. O Sacramento da Penitencia reforça a Graça que recebemos no dia de nosso Batismo e purifica nossas almas de nossos pecados. Não podemos pensar em receber numerosas graças do Espírito Santo se estamos contristando-lhe pelo pecado. O Sacramento da Penitencia restitui pois em nós a força do Espírito Santo, a virtude da Graça.
O que diremos do Sacramento da Sagrada Eucaristia que nos é dado pela celebração do Santo Sacrifício da Missa? É nesse preciso instante em que o Sacrifício da Missa se consuma, continuando-se assim o Sacrifício da Redenção, quando o Sacramento da Sagrada Eucaristia se realiza. Esta graça flui do Coração traspassado de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sangue e a água que saem de seu Sagrado Coração significam as graças da Redenção e ao mesmo tempo nos comunicam sua vida divina. Na Sagrada Eucaristia recebemos toda vez a santificação de nossas almas para apartá-las do pecado e a união com Nosso Senhor Jesus Cristo, e em tudo isto se nos comunica a força do Espírito Santo.
Os Sacramentos do Matrimonio e da Ordem santificam a sociedade. O primeiro santifica as famílias e o segundo é conferido para comunicar precisamente o Espírito Santo a todas as famílias cristãs, a todas as almas. São momentos nos quais Nosso Senhor Jesus Cristo nos dá realmente seu Espírito, Espírito de verdade, de caridade e de amor.
Finalmente o Sacramento da Extrema-Unção nos prepara para receber a verdadeira e definitiva efusão do Espírito Santo, quando receberemos nossa recompensa no Céu.
NÃO TEMOS DIREITO A ESCOLHER OUTROS MEIOS
Estes são os meios que Nosso Senhor Jesus Cristo quis empregar para comunicar-nos sua vida espiritual, seu próprio Espírito. Não temos direito a querer e escolher outros meios distintos daqueles que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, esses meios que Ele mesmo instituiu tão singelos, tão belos, tão eficazes e tão simbólicos ao mesmo tempo. Não pretendamos receber o Espírito Santo mediante simples manifestações externas ou gestos originais. É demais temer que todas estas manifestações sejam inspiradas pelo espírito do mal, precisamente para enganar aos fieis, fazendo-lhes crer que recebem o verdadeiro Espírito de Nosso Senhor. E não é verdade, não recebem o Espírito Santo, mas outro tipo de espírito... Cuidado para não deixar-nos enganar por estas correntes, velando para que não o sejam também nossos familiares. Façamos ver que Nosso Senhor Jesus Cristo pôs todo seu empenho em comunicar-nos o Espírito Santo através dos Sacramentos que Ele mesmo instituiu.
A VERDADEIRA AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NAS ALMAS: OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
Assim, pois, como atua o Espírito Santo em nossas almas? Primeiramente apartando-nos do pecado, mediante os dons da Fortaleza e do Temor de Deus. Especialmente o temor filial e não o temor servil, ainda que pode ser útil o temor que nos infundem os castigos, guardando-nos fiéis a Nosso Senhor Jesus Cristo e a seus Mandamentos. Mas é o temor filial que devemos cultivar. È este temor que nos infunde o Espírito Santo. Temor de apartar-nos de Nosso Senhor Jesus Cristo que é nosso tudo, de apartar-nos de Deus, do Espírito Santo. Este temor deveria ser suficiente e eficaz para apartar-nos de todo pecado voluntário, seja ele que seja. Que nossa vontade não se afaste de Deus pelo apego a bens contrários à Vontade divina. Este é o primeiro efeito dos dons do Espírito Santo.
Através dos Dons do Conselho e Sabedoria o Espírito Santo nos inspira a submissão à Vontade de Deus; o Dom de Conselho aperfeiçoa a virtude da Prudência. Todos temos necessidade em nossa vida de saber qual é a Vontade de Deus para poder cumpri-la. Nem sempre é fácil. Há momentos em que devemos tomar certas decisões, que são sem dúvida complicadas, e é então quando descobrimos ser difícil conhecer a Vontade de Deus. O Espírito Santo nos ilumina pelos Dons de Conselho e Sabedoria.
A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade nos move também à oração, à união com Nosso Senhor Jesus Cristo, à união com Deus Pai através da oração. Eis aqui o Dom da Piedade, um dos sete Dons do Espírito Santo. O Dom da Piedade se manifesta especialmente na virtude da Religião que leva as almas a Deus. Virtude da Religião que forma parte da virtude da Justiça, pois é justo e digno que tributemos um culto. E o culto que Deus Pai quer que lhe tributemos através da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante o Sacrifício do Calvário. Pela celebração do Santo Sacrificio da Missa Deus Pai quis que lhe tributasse toda honra e toda gloria por Nosso Senhor Jesus Cristo, com Ele e nEle.
Isto é o que a Igreja nos pede que façamos cada Domingo: unir-nos ao Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. É a oração mais bela e maior. Na Santa Missa o Espírito Santo nos inspira esta virtude da Religião, espírito de piedade profunda, realidade espiritual muito mais que sensível.
UMA FRASE BEM REPETIDA: A PARTICIPAÇÃO ATIVA NA LITURGIA
De novo nos vemos obrigados a dizer que há um erro na reforma litúrgica: a repetição maçante sobre a participação dos fiéis. Eu mesmo ouvi dos lábios de Monsenhor Bugnini, peça chave na reforma litúrgica, dizer o seguinte: “A reforma litúrgica tem como objetivo incentivar a participação dos fiéis na Liturgia”.
De que participação se trata? Esta é la pergunta. Uma participação externa? Una participação oral? Estas formas não são sempre a melhor maneira de participar. Por que a participação externa? Por que estas cerimônias? Por que estes cantos? Por que estas orações vocais? Acaso é com o fim de chegar à união interior, a essa união espiritual, sobrenatural, a essa união de nossas almas com Deus?
Dito isto é bem possível que alguém possa assistir ao Santo Sacrifício da Missa em atitude silenciosa, sem abrir sequer o Missal, precisamente quando toda a atenção se dá no que ali se celebra, e a alma está centrada, invadida pelos sentimentos que o sacerdote manifesta em sua ação litúrgica, pendente do momento em que o ministro pronuncia o confiteor, seu ato de contrição. Desta forma a alma faz suas as palavras do sacerdote e se dói de seus pecados.
Quando se entoa o Kyrie Eleison se faz una chamada à piedade e à misericórdia de Deus. Quando se lê o Evangelho ou a Epístola surge o espírito de Fé. O Credo é um ato de Fé, de Fé nas verdades ensinadas pela Santa Igreja. No momento do Ofertório a alma se oferece, junto com a Hóstia, na patena. Se oferece o trabalho do dia, a própria vida e a família, os entes queridos: tudo se oferece a Deus. Os sentimentos continuam expressando-se desta maneira através da Missa, é magnífico. Esta é a verdadeira participação, participação interior de nossas almas na oração pública da Igreja. Não tem que ser necessariamente uma participação externa, ainda que esta seja bem útil e possa nos ajudar a estar unidos ao sacerdote. Mas o fim é sempre a união espiritual de nossos corações e de nossas almas com Nosso Senhor Jesus Cristo, com Deus Pai. E por tudo isso é um erro quando se pretende que os fieis participem externamente e isto em tal grau que chega a ser um obstáculo para a oração interior e a união das almas com Deus.
"Não temos direito a querer e escolher outros meios distintos daqueles que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, esses meios que Ele mesmo instituiu tão singelos, tão belos, tão eficazes e tão simbólicos ao mesmo tempo."
Quantas pessoas dizem que não podem rezar agora com a Nova Missa. Sempre se está ouvindo algo. Sempre há uma oração em comum, pública, manifestada externamente, que é motivo de distrações e impede que possamos nos recolher e assim estar unidos mais intimamente com Deus. É a negação do que se está fazendo. O espírito de Piedade e o Dom da Piedade são também uma manifestação do Espírito Santo.
DA PIEDADE À CONTEMPLAÇÃO
Finalmente os Dons do Entendimento e da Ciência nos convidam à contemplação de Deus através das coisas deste mundo. O Dom da Ciência e o Dom do Entendimento nos penetram e nos infundem a Luz da existência de Deus, de sua Presença em todas as coisas e especialmente nas manifestações espirituais e sobrenaturais que Deus nos concede pela Graça e pelos Sacramentos. Quando o Espírito Santo ilumina a uma alma esta vê de alguma maneira a presença de Deus em todas as coisas e assim se une a seu Senhor no viver diário esperando vê-lo realmente na vida eterna.
O ESPÍRITO SANTO FONTE DA VIDA INTERIOR
Assim é e assim se manifesta o Espírito Santo. Nos Evangelhos, nos Atos dos Apóstolos, nas Epístolas, se pode contemplar ao Espírito Santo. Está em todas as partes e em todas as partes se manifesta. É a expressão claríssima da Vontade de Deus Pai que deseja ver-nos como nos santificamos pela presença do Espírito Santo.
Peçamos à Santíssima Virgem Maria, inundada pelo Espírito Santo, Ela que é Nossa Mãe do Céu, que nos ajude a viver esta vida espiritual, interior e contemplativa. Ela que tanto recato teve em manifestar externamente sua oração. Umas poucas palavras no Evangelho bastam para nos mostrar e descobrir um pouco a alma da Santíssima Virgem Maria.
Ela meditava as palavras que proferia Nosso Senhor. As meditava em seu Coração, nos diz o Evangelho. Este era o espírito da Santíssima Virgem Maria: meditava as palavras de Jesus.
Meditemos também nós os ensinamentos do Evangelho; meditemos os ensinamentos que a Igreja nos faz aprender para nos unir cada vez mais e mais a Deus Nosso Senhor.
† Mons. Marcel Lefebvre
Notas:
(1) Em primeiro de janeiro de 1901 uma estudante protestante experimentou de repente uma sensação de paz e de gozo que segundo ela provinha de Cristo e igualmente se pôs a falar em línguas cujo conhecimento ignorava. Passados alguns dias toda sua comunidade havia recebido, como ela, o “Batismo no Espírito”. Assim nascia o Movimento Pentecostal protestante.
(2) Em 13 de janeiro de 1967 dois professores da Universidade de Pittsburgh pedem que se lhes imponha as mãos em uma assembléia protestante, descobrindo com grande surpresa que “falam em línguas”. Nascia a Renovação Carismática católica.
(3) Esta tendência ecumenista atual, de tão grande êxito, não constituirá talvez o que se vêm chamando a “renovação conciliar”?
(4) Os sinais extraordinários de Pentecostes foram carismas passageiros cujo fim era interessar aos judeus na predicação dos Apóstolos. À medida que a Igreja se estendia estes carismas foram desaparecendo pouco a pouco.
Atualmente se fala com freqüência na Igreja do Movimento Pentecostal e da Renovação Carismática. Efetivamente há muitos católicos hoje em dia que buscam receber a graça do Espírito Santo por um caminho diferente que em definitivo nos chega através do Protestantismo. O Movimento Pentecostal é de origem protestante (1) e entrou na Igreja (2) transformando-se no Movimento da Renovação Carismática. Temos que dizer com clareza que estas manifestações são cada vez mais freqüentes na Igreja e sempre com a autorização das autoridades eclesiásticas (3).
No mês de Novembro de 1984, durante a reunião que teve lugar em Munique conhecida como Katholikentag, todos os Cardeais e Bispos alemães se congregaram junto a mais de oitenta mil fieis. Todo o mundo foi testemunha destas estranhas manifestações que tiveram lugar geralmente antes de se administrar o Sacramento da Eucaristia. E não cabe dúvida que diante de tais manifestações alguém se perguntasse se estavam inspirados pelo verdadeiro Espírito de Deus ou se tratava de outro espírito.
Mais ou menos e também por este modo, em Graz (Áustria), tiveram lugar uma serie de manifestações carismáticas diante do bispo deste lugar, no qual afirmou que adiante seriam aceitas na Igreja Católica como um meio para atrair aos jovens cuja prática religiosa era cada vez menor. Talvez, seguiu dizendo, seja um meio para que renasça a vida cristã entre a juventude.
Ao mesmo tempo, em Paray-le-Monial, se celebram freqüentemente reuniões deste tipo, adornadas com certos elementos tradicionais.
Concretamente aqui, em Paray-le-Monial, há jovens que passam a noite em adoração diante do Santíssimo Sacramento, rezando o Rosário e dando testemunho de um autêntico espírito de oração. No entanto há um aspecto curioso e estranho nele em que se mesclam elementos da Tradição e essas manifestações raras e nada habituais na Igreja.
Que podemos pensar de tudo isto? Devemos crer que é um novo caminho aberto por ocasião do Concilio Vaticano II, e incluído alguns anos antes, para receber o Espírito Santo?
"O Movimento Pentecostal é de origem protestante e tem entrado na Igreja transformando-se no Movimento da Renovação Carismática"
Tudo parece indicar que estas novas manifestações não estão de acordo com a Tradição da Igreja. De onde procede o Espírito Santo? Quem nos dá o Espírito Santo? Quem é o Espírito Santo?
DE ONDE PROCEDE O ESPÍRITO SANTO?
O Espírito Santo é Deus. Spiritus est Deus, diz São João. “Deus é Espírito”. E Deus quer que rezemos e lhe adoremos em espírito e verdade. Assim pois mais que manifestações sensíveis, externas, se trata de uma atitude espiritual que deve mostrar nosso verdadeiro vínculo com o Espírito Santo. No Evangelho Nosso Senhor Jesus Cristo anuncia aos Apóstolos que receberão o Espírito Santo, que Ele lhes enviará o Espírito Santo. O Espírito Santo, Espírito de verdade, de caridade, que glorificará a Nosso Senhor porque tomará dEle e lho dará a conhecer. Mittam eum ad vos. “Eu lhos enviarei”. Este Espírito procede de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Pai. O dizemos no Credo: Credo in Spiritum Sanctum, qui ex Patre Filioque procedit. “Que procede do Pai e do Filho”. Esta é a Fe católica: cremos que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho e que Nosso Senhor Jesus Cristo veio precisamente à Terra para comunicar-nos seu Espírito, para infundir-nos sua vida espiritual, sua vida divina.
OS SACRAMENTOS
Como se da a recepção do Espírito Santo? Que meios usa Nosso Senhor? Se vale destas manifestações (4) que vemos na Renovação Carismática e nos Pentecostais? Em absoluto. É por meio dos Sacramentos, instituídos por Ele, que nos comunica seu Espírito.
Devemos insistir de forma especial nesta verdade da Tradição: Nosso Senhor nos comunica seu Espírito pelo Batismo. Ele disse a Nicodemos na entrevista noturna que manteve com ele. “Aquele que no renasce da água e do Espírito Santo não entrará no Reino dos Céus”. Devemos renascer da água e do Espírito Santo. Ademais Nosso Senhor comunicou também desta forma seu Espírito aos Apóstolos. Primeiramente receberam o batismo de João e depois em Pentecostes receberam o Batismo do Espírito. E logo depois de terem recebido o Espírito Santo, que fizeram?
"Creio que deveríamos meditar com mais atenção a grande realidade de nosso Batismo. É uma total transformação a que se opera em nossas almas com a recepção deste sacramento."
Eis o que fizeram os Apóstolos: foram batizar; comunicaram o Espírito Santo a todos que tiveram Fé, a todos que creram em Nosso Senhor Jesus Cristo.
É assim como a Igreja, sob a influência e o ditame de Nosso Senhor Jesus Cristo, comunica o Espírito Santo às almas através do Batismo. Todos nós recebemos o Espírito Santo no dia de nosso Batismo. Creio que deveríamos meditar com mais atenção a grande realidade de nosso Batismo. É uma total transformação a que se opera em nossas almas com a recepção deste sacramento.
Os outros Sacramentos vêm a completar esta efusão do Espírito Santo recebido no dia de nosso Batismo.
O Sacramento da Confirmação nos comunica também todos os dons do Espírito Santo com grande profusão, já que temos necessidade deles para alimentar e fortalecer nossa vida espiritual, nossa vida cristã.
E isso não é tudo. Com efeito, Nosso Senhor Jesus Cristo quis que dois Sacramentos em particular nos comunicasse seu Espírito de forma freqüente, com o fim de manter em nós a efusão de seu Espírito. São os Sacramentos da Penitencia e da Sagrada Eucaristia. O Sacramento da Penitencia reforça a Graça que recebemos no dia de nosso Batismo e purifica nossas almas de nossos pecados. Não podemos pensar em receber numerosas graças do Espírito Santo se estamos contristando-lhe pelo pecado. O Sacramento da Penitencia restitui pois em nós a força do Espírito Santo, a virtude da Graça.
O que diremos do Sacramento da Sagrada Eucaristia que nos é dado pela celebração do Santo Sacrifício da Missa? É nesse preciso instante em que o Sacrifício da Missa se consuma, continuando-se assim o Sacrifício da Redenção, quando o Sacramento da Sagrada Eucaristia se realiza. Esta graça flui do Coração traspassado de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sangue e a água que saem de seu Sagrado Coração significam as graças da Redenção e ao mesmo tempo nos comunicam sua vida divina. Na Sagrada Eucaristia recebemos toda vez a santificação de nossas almas para apartá-las do pecado e a união com Nosso Senhor Jesus Cristo, e em tudo isto se nos comunica a força do Espírito Santo.
Os Sacramentos do Matrimonio e da Ordem santificam a sociedade. O primeiro santifica as famílias e o segundo é conferido para comunicar precisamente o Espírito Santo a todas as famílias cristãs, a todas as almas. São momentos nos quais Nosso Senhor Jesus Cristo nos dá realmente seu Espírito, Espírito de verdade, de caridade e de amor.
Finalmente o Sacramento da Extrema-Unção nos prepara para receber a verdadeira e definitiva efusão do Espírito Santo, quando receberemos nossa recompensa no Céu.
NÃO TEMOS DIREITO A ESCOLHER OUTROS MEIOS
Estes são os meios que Nosso Senhor Jesus Cristo quis empregar para comunicar-nos sua vida espiritual, seu próprio Espírito. Não temos direito a querer e escolher outros meios distintos daqueles que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, esses meios que Ele mesmo instituiu tão singelos, tão belos, tão eficazes e tão simbólicos ao mesmo tempo. Não pretendamos receber o Espírito Santo mediante simples manifestações externas ou gestos originais. É demais temer que todas estas manifestações sejam inspiradas pelo espírito do mal, precisamente para enganar aos fieis, fazendo-lhes crer que recebem o verdadeiro Espírito de Nosso Senhor. E não é verdade, não recebem o Espírito Santo, mas outro tipo de espírito... Cuidado para não deixar-nos enganar por estas correntes, velando para que não o sejam também nossos familiares. Façamos ver que Nosso Senhor Jesus Cristo pôs todo seu empenho em comunicar-nos o Espírito Santo através dos Sacramentos que Ele mesmo instituiu.
A VERDADEIRA AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NAS ALMAS: OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
Assim, pois, como atua o Espírito Santo em nossas almas? Primeiramente apartando-nos do pecado, mediante os dons da Fortaleza e do Temor de Deus. Especialmente o temor filial e não o temor servil, ainda que pode ser útil o temor que nos infundem os castigos, guardando-nos fiéis a Nosso Senhor Jesus Cristo e a seus Mandamentos. Mas é o temor filial que devemos cultivar. È este temor que nos infunde o Espírito Santo. Temor de apartar-nos de Nosso Senhor Jesus Cristo que é nosso tudo, de apartar-nos de Deus, do Espírito Santo. Este temor deveria ser suficiente e eficaz para apartar-nos de todo pecado voluntário, seja ele que seja. Que nossa vontade não se afaste de Deus pelo apego a bens contrários à Vontade divina. Este é o primeiro efeito dos dons do Espírito Santo.
Através dos Dons do Conselho e Sabedoria o Espírito Santo nos inspira a submissão à Vontade de Deus; o Dom de Conselho aperfeiçoa a virtude da Prudência. Todos temos necessidade em nossa vida de saber qual é a Vontade de Deus para poder cumpri-la. Nem sempre é fácil. Há momentos em que devemos tomar certas decisões, que são sem dúvida complicadas, e é então quando descobrimos ser difícil conhecer a Vontade de Deus. O Espírito Santo nos ilumina pelos Dons de Conselho e Sabedoria.
A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade nos move também à oração, à união com Nosso Senhor Jesus Cristo, à união com Deus Pai através da oração. Eis aqui o Dom da Piedade, um dos sete Dons do Espírito Santo. O Dom da Piedade se manifesta especialmente na virtude da Religião que leva as almas a Deus. Virtude da Religião que forma parte da virtude da Justiça, pois é justo e digno que tributemos um culto. E o culto que Deus Pai quer que lhe tributemos através da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante o Sacrifício do Calvário. Pela celebração do Santo Sacrificio da Missa Deus Pai quis que lhe tributasse toda honra e toda gloria por Nosso Senhor Jesus Cristo, com Ele e nEle.
Isto é o que a Igreja nos pede que façamos cada Domingo: unir-nos ao Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. É a oração mais bela e maior. Na Santa Missa o Espírito Santo nos inspira esta virtude da Religião, espírito de piedade profunda, realidade espiritual muito mais que sensível.
UMA FRASE BEM REPETIDA: A PARTICIPAÇÃO ATIVA NA LITURGIA
De novo nos vemos obrigados a dizer que há um erro na reforma litúrgica: a repetição maçante sobre a participação dos fiéis. Eu mesmo ouvi dos lábios de Monsenhor Bugnini, peça chave na reforma litúrgica, dizer o seguinte: “A reforma litúrgica tem como objetivo incentivar a participação dos fiéis na Liturgia”.
De que participação se trata? Esta é la pergunta. Uma participação externa? Una participação oral? Estas formas não são sempre a melhor maneira de participar. Por que a participação externa? Por que estas cerimônias? Por que estes cantos? Por que estas orações vocais? Acaso é com o fim de chegar à união interior, a essa união espiritual, sobrenatural, a essa união de nossas almas com Deus?
Dito isto é bem possível que alguém possa assistir ao Santo Sacrifício da Missa em atitude silenciosa, sem abrir sequer o Missal, precisamente quando toda a atenção se dá no que ali se celebra, e a alma está centrada, invadida pelos sentimentos que o sacerdote manifesta em sua ação litúrgica, pendente do momento em que o ministro pronuncia o confiteor, seu ato de contrição. Desta forma a alma faz suas as palavras do sacerdote e se dói de seus pecados.
Quando se entoa o Kyrie Eleison se faz una chamada à piedade e à misericórdia de Deus. Quando se lê o Evangelho ou a Epístola surge o espírito de Fé. O Credo é um ato de Fé, de Fé nas verdades ensinadas pela Santa Igreja. No momento do Ofertório a alma se oferece, junto com a Hóstia, na patena. Se oferece o trabalho do dia, a própria vida e a família, os entes queridos: tudo se oferece a Deus. Os sentimentos continuam expressando-se desta maneira através da Missa, é magnífico. Esta é a verdadeira participação, participação interior de nossas almas na oração pública da Igreja. Não tem que ser necessariamente uma participação externa, ainda que esta seja bem útil e possa nos ajudar a estar unidos ao sacerdote. Mas o fim é sempre a união espiritual de nossos corações e de nossas almas com Nosso Senhor Jesus Cristo, com Deus Pai. E por tudo isso é um erro quando se pretende que os fieis participem externamente e isto em tal grau que chega a ser um obstáculo para a oração interior e a união das almas com Deus.
"Não temos direito a querer e escolher outros meios distintos daqueles que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu, esses meios que Ele mesmo instituiu tão singelos, tão belos, tão eficazes e tão simbólicos ao mesmo tempo."
Quantas pessoas dizem que não podem rezar agora com a Nova Missa. Sempre se está ouvindo algo. Sempre há uma oração em comum, pública, manifestada externamente, que é motivo de distrações e impede que possamos nos recolher e assim estar unidos mais intimamente com Deus. É a negação do que se está fazendo. O espírito de Piedade e o Dom da Piedade são também uma manifestação do Espírito Santo.
DA PIEDADE À CONTEMPLAÇÃO
Finalmente os Dons do Entendimento e da Ciência nos convidam à contemplação de Deus através das coisas deste mundo. O Dom da Ciência e o Dom do Entendimento nos penetram e nos infundem a Luz da existência de Deus, de sua Presença em todas as coisas e especialmente nas manifestações espirituais e sobrenaturais que Deus nos concede pela Graça e pelos Sacramentos. Quando o Espírito Santo ilumina a uma alma esta vê de alguma maneira a presença de Deus em todas as coisas e assim se une a seu Senhor no viver diário esperando vê-lo realmente na vida eterna.
O ESPÍRITO SANTO FONTE DA VIDA INTERIOR
Assim é e assim se manifesta o Espírito Santo. Nos Evangelhos, nos Atos dos Apóstolos, nas Epístolas, se pode contemplar ao Espírito Santo. Está em todas as partes e em todas as partes se manifesta. É a expressão claríssima da Vontade de Deus Pai que deseja ver-nos como nos santificamos pela presença do Espírito Santo.
Peçamos à Santíssima Virgem Maria, inundada pelo Espírito Santo, Ela que é Nossa Mãe do Céu, que nos ajude a viver esta vida espiritual, interior e contemplativa. Ela que tanto recato teve em manifestar externamente sua oração. Umas poucas palavras no Evangelho bastam para nos mostrar e descobrir um pouco a alma da Santíssima Virgem Maria.
Ela meditava as palavras que proferia Nosso Senhor. As meditava em seu Coração, nos diz o Evangelho. Este era o espírito da Santíssima Virgem Maria: meditava as palavras de Jesus.
Meditemos também nós os ensinamentos do Evangelho; meditemos os ensinamentos que a Igreja nos faz aprender para nos unir cada vez mais e mais a Deus Nosso Senhor.
† Mons. Marcel Lefebvre
Notas:
(1) Em primeiro de janeiro de 1901 uma estudante protestante experimentou de repente uma sensação de paz e de gozo que segundo ela provinha de Cristo e igualmente se pôs a falar em línguas cujo conhecimento ignorava. Passados alguns dias toda sua comunidade havia recebido, como ela, o “Batismo no Espírito”. Assim nascia o Movimento Pentecostal protestante.
(2) Em 13 de janeiro de 1967 dois professores da Universidade de Pittsburgh pedem que se lhes imponha as mãos em uma assembléia protestante, descobrindo com grande surpresa que “falam em línguas”. Nascia a Renovação Carismática católica.
(3) Esta tendência ecumenista atual, de tão grande êxito, não constituirá talvez o que se vêm chamando a “renovação conciliar”?
(4) Os sinais extraordinários de Pentecostes foram carismas passageiros cujo fim era interessar aos judeus na predicação dos Apóstolos. À medida que a Igreja se estendia estes carismas foram desaparecendo pouco a pouco.
Texto original: 'La Renovacion Carismatica: negación de los sacramentos y caricatura de los Dones del Espíritu Santo', publicado em http://www.statveritas.com.ar/Varios/Lefebvre-Carismaticos.htm